CIEN-Brasil Informa

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CIEN Brasil
 Neste boletim informativo do CIEN-Brasil trazemos sob a rúbrica Em breve... os eventos de outubro e novembro que terão lugar nos diferentes lugares onde o CIEN está presente. Conversações entre o CIEN e o Núcleo de Psicanálise e Direito em MG, Conversações em torno do livro Crianças falam! E têm o que dizer em SC. E a 4a Tarde de trabalhos do CIEN- Brasil que terá como convidado a Miquel Bassols, em BH.
 
Na rúbrica Ressonâncias contamos excelentes colaborações.  Do CINE CIEN temos dois textos. O primeiro é de MG, uma resenha do debate sobre o filme “Bling Ring: a gangue de Hollywood” com pontuações muito bem-vindas sobre o conceito de trauma. O segundo, de BA, em colaboração com PE, uma ótima reflexão em torno do filme "Monsieur Lazhar". Também incluimos um pequeno texto sobre momentos marcantes das conversações do laboratório de PR.
 
Lembramos que a 4a Tarde de trabalhos do CIEN se apróxima, aproveite para fazer sua inscrição!
 
 
 
Em breve...
 
Atividades CIEN
 
Em MG
Conversação CIEN e Núcleo de Psicanálise e Direito
 
Em SC
Quinta-feira, 23 de outubro
 
 
No dia 23/10 teremos um encontro na EBP com participantes dos dois laboratórios já estabelecidos para conversarmos a partir do texto "Psicanálise e Educação: Rumo a um saber novo ", de Virgínia Carvalho. Optamos por iniciar esse espaço por um texto do Livro "Crianças falam! E tem o que dizer..." para compartilhar e dar visibilidade em Florianópolis ao trabalho que já vem sendo realizado pelo Cien. O segundo encontro na sede da EBP será no dia 13/12. Esses encontros serão abertos para todos os interessados no trabalho.
 
Em BH
Domingo, 23 de novembro
 
IV TARDE DE TRABALHOS DO CIEN BRASIL
Local: Centro de Convenções Dayrell Hotel  Belo Horizonte/MINAS
 
 
 As inscrições para participar da IV Tarde de Trabalho do CIEN Brasil podem ser feitas pelos e-mails: ipsmmg@institutopsicanalise-mg.com.br ou brasil.cien@gmail.com  Tel.(31) 3275-3873.
 
O valor da inscrição é R$40,00 – (Inscrição CIEN + NRCereda: R$85,00)
Depósito na conta do IPSM-MG e envie o comprovante pela internet com seus dados. 
Banco Itaú
ag.4540
c/c: 02333-2.
 
 Aguardamos você! As vagas são limitadas!
 
 
 
Ressonâncias...
 
Em BH
CINE CIEN
 
 
 Rumo   à  IV Tarde de trabalhos do CIEN Brasil
Qual trauma em Bling Ring?
 
Maria Rita Guimarães
 Na noite de 06/08/2014 o Cinecien -MG exibiu o filme Bling Ring .Da narrativa de Sofia Coppola (2013), retirada de fatos reais relatados pela jornalista Nancy Jo Sales que, anteriormente àescrita do livro, publicou uma  matéria sobre o tema na revista Vanity Fair ,em  2010, com o nome « Os suspeitos  usavam  Louboutin” - destacam-se  alguns aspectos que nos interessam  para o debate  na roda de Conversação:
O fascínio pela imagem, quando ela pode ser multiplicada, (quase) sem limite, pelas redes sociais.
O gozo, presente em cada ação do roubo, demanda mais um, na sucessão vazia dos atos transgressivos. Roubo "para nadajáque os desejados objetos de consumo, passado o efêmero momento de ver,momento do click da foto, já podem ser perdidos, consumidos, vendidos.
Paris Hilton éuma grife fascinante, um objeto? Parece pouco importar como pessoa, não parece ocorrer  uma identificação com ela: o que importa para os jovens éo que ela porta, seus objetos.
A lista seria longa. Coloquemos, no entanto, duas questões como convite ao pensar:
São os objetos o sintoma dos adolescentes, no filme? São os objetos que gozam deles?
      Em que momento-depois da prisão éidentificável? - encontraríamos marcas da experiência - experiência traumática - vividas pelos adolescentes que Sofia Coppola nos apresentou? 
O fato apresenta-nos quatro jovens e um rapaz que se lançam,aparentemente para romperem o tédio de suas existências, a roubar os objetos de grifes reconhecidas em casas de pessoas chamadas "celebridades de Hollywood. Porém, háalgo mais que o tédio : o sonho de glória, de ter a própria marca, a aspiração futura" de fama  que não vai além da imagem clicada ,fulgurante instante de ver e postar no Facebook, existe. Constatamos essa existência no final do filme, através da rapidez com que se apropriaram do "acontecimento prisão- porque chegaram atélá!- para se mostraremàmídia. Tal qual camaleões, defenderam-se metamorfoseados no discurso da curiosa e bizarra filosofia filantrópica  cultivada pela mãe de uma delas.Assim, Emma Watson pode discursar para os jornalistas:
Eu acredito no karma e acredito que esta situação aconteceu na minha vida para me dar uma grande lição, para eu crescer e amadurecer como ser humano espiritual. Eu quero gerenciar uma grande organização beneficente . Eu quero liderar o país um dia.
O significante marca"foi discutido pelos presentes na Conversação.Os Louboutins são os nomes dos adolescents, são suas representações sociais, porém  voláteis como a droga consumida.Daía pouco a identidade de cada um poderáser aspirada" pelos calçados de Paris Hilton e  de outrooutro nome consagrado como marca. Parece ser menos o objeto em sua materialidade - ou mesmo a materialidade dos dólares roubados - que lhes importa , jáque rápido o jogo entre consumidor/consumido rebaixa o objeto a nada.  
Encontraríamos marcas nos corpos? Mesmo após o sério acidente de carro os corpos das jovens seguem delgados, angélicos, assexuados, quase! Curiosamente, mesmo se mencionada uma ou duas  vezes,  a fala  depreciativa a respeito do parceiro, ocasional, anônimo, mostra a relação sexual como caricatural, coisificada. São corpos habitados pelos objetos de marcas e pela anfetamina (Aderal) administrada pela mãe, em  todas as manhãs. São corpos para o olhar e para a imagem- dois objetos onipresentes na narrativa fílmica. São objetos / vestimenta para o vazio de suas vidas.
E  a marca do trauma?
No debate, era a pergunta  que retornava e, em seus giros, possibilitava a muitos presentes na Conversação a contribuírem  com elementos de respostas porém, deixando-a aberta.As intervenções destacavam que, ao menos  para Mark, o garoto, podia-se ler algo de uma subjetivação da experiência.Experiência dos roubos, da amizade rompida, de constatar que sua América ainda éfascinada por seus Bonny and Clyde.
Se falamos em subjetivação éporque estamos admitindo ao ser falante o  esforço para subjetivar o choque que lhe adveio do  encontro com a linguagem.Este traumatismo não pode ser tomado no 
sentido negativo : na verdade, ele empurra àentrada na humanização. Esta émais bela e mais forte  e não poderia ser reduzida a corpos coisificados, mesmo em sua estética angelical, a serviço do capitalismo.
Cien Digital 16 publicou o texto A bússola do sim e do não, de Philippe Lacadée, do qual extraio dois parágrafos que nos ajudam a pensar a questão do trauma em Bling Ring:
               A questão é saber como essa criança moderna que não se sustenta mais de seu desejo, mas da solitária relação ao objeto , toma conta do excesso de consumo que lhe barra o acesso ao saber e ao inconsciente. Os desejos tão solicitados são transformados em necessidades, em imperativos de gozo que respondem àgulodice de seu supereu sem que a criança saiba demandar ao Outro.Ela quer tudo e tudo já. Ela se encontra, então, vítima de um supereu feroz que a empurra para querer gozar de tudo e para o qual bem e mal se equivalem.
                Controle remoto na mão, a criança conecta diretamente seu corpo com o objeto gadget que jáera interrogado por Lacan em 1974: chegaremos a nos tornar animados verdadeiramente pelos gadgets?. Lacan não acreditava, mesmo afirmando, não obstante, que verdadeiramente não hánada a fazer quando o gadget não é  um sintoma. Lacan evidenciava deste modo, a solução do gadget como podendo ser para o sujeito um novo sintoma; parece abrir uma via mais digna para o objeto gadget. Não se trata de rejeitá-lo com a nostalgia dos   tempos antigos, mas compreender o uso que o sujeito faz disso. Se ele pode ter valor de sintoma, éporque o sujeito pode se servir dele como um ponto de apoio localizado, ou mesmo como suplência.
 Um a um, com sua palavra, na presenca de    um analista, saberíamos o valor dado ao objeto como um novo sintoma- ou não. Para a gangue do filme, deixemos sem resposta.
 
 
Em BA
 
CINE CIEN
 
[]
 
ECOS DE MAIS UM CINECIEN NA BAHIA.
Daniela Nunes Araujo
 
No último dia 25 de setembro, sediamos aqui em Salvador mais um CineCien, atividade promovida em parceria entre o Cien-Bahia e a Comissão de Biblioteca da EBP-BA. Primeiramente foi realizada a transmissão do filme ‘Monsieur Lazhar: o que traz boas novas’, seguido de debate animado por Mônica Hage (Psicanalista, Membro da EBP/AMP, Coord. Do Cien-BA) e que contou com a participação de Anamaria Vasconcelos (Psicanalista, Coord. Cien-Pernambuco) e Débora Calmon (Professora, Graduada em História pela UCSAL) como convidadas.
‘Monsieur Lazhar’, uma produção de 2011, originalmente canadense e vencedora de diversos prêmios cinematográficos internacionais, traz um enredo bastante interessante e que tem em seu fio condutor, as repercussões de um episódio de suicídio de uma professora em uma escola infantil do Canadá. A cena da professora morta, já enforcada, fora presenciada por Simon, um dos alunos da turma que compreende crianças entre os 10 e 11 anos de idade. Por ainda estarem no meio do ano letivo, um novo professor foi contratado. Bachir Lazhar, imigrante argelino, que corria o risco de ser deportado a qualquer momento, substituiu a professora de modo tão urgente, que nem sequer desconfiaram das questões pessoais que ele arduamente vinha enfrentando, tampouco interrogaram sua verdadeira formação.
Anamaria Vasconcelos nos contemplou com uma rica contribuição, direcionando-nos a pensar a respeito do trauma, assim como da função exercida pelo trabalho do Cien enquanto experiência da psicanálise na cidade. Como tomar o acontecimento do suicídio da professora? Até que ponto ele foi verdadeiramente traumático; e se foi: para quem? Se o Cien - no ambiente da escola retratada, se fizesse representar, muito provavelmente proporcionaria, por via da prática de conversações, fazer falar a desordem, dificuldades e urgências vividas por estas crianças e profissionais que com elas lidavam.
Anamaria destacou  como a rotina daquela escola fora interrompida pelo suicídio e o papel que a figura do Monsieur Lazhar se fez representar. É ele quem aponta  como este episódio modifica e repercute na escola. Para ela, aí se configura o olhar do cineasta, o que coincide com o cuidado que a psicanálise tem em encontrar o ponto de real que reitera, ressoa. Enquanto a lógica de uma escola conservadora tentava, de distintos modos, “apagar” aquele acontecimento, este novo professor, à sua maneira, fazia aparecer o impossível de calar o real.
Segundo ela, poderia ser que o senso comum relacionasse o ocorrido na escola a um trauma aparente. Porém, é na medida em que a película avança, que o diretor mostra que a situação toca, em verdade, de modo muito singular, em alguns personagens específicos. A exemplo de Simon, que ficou sem muitos recursos de defesa, enquanto o restante dos alunos puderam, de alguma maneira, ser “protegidos” do real da cena.
Em determinado momento da história, uma vez aberta a possibilidade (por parte do Professor Lazhar) de que aquelas crianças falassem abertamente sobre o acontecimento, uma aluna pede a vez e diz: “nós não estamos traumatizados, os adultos é que estão”. Isto imediatamente nos leva a pensar que o valor traumático não está no fato em si, mas no que toca em cada um, logo, diz respeito a um antes mesmo do acontecimento.
Na sequência, Débora Calmon nos proporcionou importante reflexão, partindo do questionamento de possíveis efeitos nas crianças em relação ao rendimento ensino-aprendizagem. Para ela, desde a perspectiva de um educador, cabe atentar a essas quebras de rotina e aos riscos aí implicados: quando, no caso do filme, perde-se uma professora, soma-se a isto que as crianças também teriam de fazer uma readaptação ao novo professor.
Débora mais uma vez evidencia o quanto a educação, por vezes, tenta tratar situações à base do silêncio, como bem retratado no filme, mas o quanto se faz importante que o professor também valorize a fala. Segundo ela, Monsieur Lazhar foi capaz de perceber a necessidade do falar em sala de aula, para além dos conteúdos programáticos.
Nos chama à atenção de que nós, espectadores, tal qual o professor substituto, ficamos de fora de momentos importantes vivenciados pelas crianças, seus alunos, a exemplo dos encontros grupais com a psicóloga contratada pela escola. E provoca o público, ao interrogar a tentativa de sigilo da direção.
Débora traça interessante percurso do Bachir Lazhar na história do filme, principalmente, ao levar em conta que ele se fez professor, já que essa não era sua formação. Apesar de não trazer em sua experiência a prática em sala de aula, ele se deixa aprender ser professor. Uma vez aberta discussão ao público, inclusive, foi destacado o valor da experiência de vida deste sujeito, quando também submetido a uma situação de risco, por estar ali no Canadá, até então de modo ilegal, o permitiu “escutar” aquelas crianças.
Retomo agora a um dos aportes trazidos por Anamaria Vasconcelos, quando lançou o que de vida aparece neste recorte histórico do filme, marcado pela morte. Segundo ela, Monsieur Lazhar manteve a capacidade de sustentar uma posição significativa e desejante em direção à vida. Em nenhum momento ele buscou tamponar a falta, mas sim causar abertura. Foi diante desta posição de um Outro simbólico, que ele facilitou o acolhimento dos ditos de cada um ali.
Podemos concluir então que, mesmo diante dos impossíveis da tarefa de educar, este professor foi capaz de remar contra a lógica educacional, subvertendo o imperativo de fazer calar a morte. Quebrar os protocolos institucionais, neste caso, veio sim a contribuir, quando principalmente fez uso de ferramenta das mais caras à psicanálise: a fala. O dar a voz, seja na experiência clínica, seja na prática interdisciplinar, aparece como manejo essencial.
 
Em PR
Conversações dos laboratórios
 
CIRANDA   DE  CONVERSA
 Valéria Beatriz Araújo e Tânia Verona1
 
O Laboratório em Formação CIRANDA  DE CONVERSA, teve início em março de 2014, objetiva trabalhar com o dispositivo das Conversações nas Escolas Públicas e Particulares da cidade de Curitiba. Dentro das atividades do CIEN na Delegação Paraná, trazemos uma experiência onde o Laboratório em FormaçãoCiranda de Conversa foi solicitado a realizar o trabalho de Conversação em uma Escola Particular do Ensino Fundamental, mais precisamente numa turma do 2° ano. Nesse sentido, lá fomos nós, escutar esses sujeitos e propor um espaço para a circulação da palavra e a emergência de novas possibilidades e invenções.
Ao primeiro contato com a instituição, a direção da escola verbalizou sobre a necessidade/importância de intervenção com as crianças desta referida turma. Sobre este pedido de conversa, pode-se, a posteriori, perceber que aquele discurso apontava um embaraço sobre o que acontecia, afinal, com a turma. A direção trazia a queixa de que eram agitados, e havia dois alunos que os professores “não davam conta” e que agitavam toda a turma. A turma dava trabalho. O Laboratório escutou a queixa e acolheu a demanda e, após duas Conversações realizadas com os alunos, percebeu-se que, eram simplesmente crianças, que se agitavam, que interagiam entre elas e que realizavam atividades, cada uma a seu modo.  O Laboratório se questionou, então, o que estava ocorrendo com esta turma, já que havia uma agitação dos corpos, mas o impasse não estava situado do lado dos alunos. 
O Laboratório percebeu a importância de realizar algumas Conversações com as professoras da referida turma, as quais passaram a experenciar a palavra, agora não mais taxativa, mas circulada. Passaram a verbalizar sobre a angústia em relação à turma, sobre o comportamento e modos de aprendizagem. No decorrer das Conversações, as professoras foram alternando suas participações, ao contrário da professora regente, a qual esteve presente em todas as Conversações, protagonizando esse mal-estar que pairava entre as docentes.
Assim sendo, esta professora vai aprofundando suas colocações, realizando um percurso que vai deslocando o foco inicial nos alunos para redirecionar o foco em si mesma, no sentido de passar a se implicar nesse contexto e questionar sua posição subjetiva frente às crianças. Tal percurso vai revelando que, diante do “imenso amor e carinho”, havia uma postura de maternagem frente à demanda das crianças, às quais careciam de um vetor que fosse orientador da lei.
Nesse percurso, a equipe e, particularmente, sua protagonista (encarnada na figura da professora regente), foi analisando seus posicionamentos e realizando novos arranjos, o que incluiu mudança no tom de voz (não mais tão infantilizado), bem como no fato de se autorizar a encarnar a lei quando necessário. Isso nos faz pensar no bom uso do semblante, o que propiciou uma diferenciação nessa parceria professor - aluno. Pensamos que tal mudança subjetiva pôde promover um furo na posição idealizada da “professora perfeita”. Tal mudança teve, como efeito, um certo apaziguamento na agitação dos corpos daquelas crianças.
Tal experiência vem corroborar, então, com o que aponta a psicanálise quando aposta no saber fazer com os semblantes, o que faz a diferença nos laços sociais.
1-Participantes do Laboratório em Formação Ciranda de Conversa (Delegação Paraná), Renata Silva de Paula Soares é responsável pelo laboratório, de que também participam: Eugênia C. Souza, Fidelis L. Grando Filho, Juliane Kravetz, Maria Argentina Dórrio, Suely Poitevin. 
 
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